Os nossos testemunhos










Consciente de uma necessidade cada vez maior de conferir um sentido palpável e concreto à actividade dos alunos, procuramos, no início de cada ano lectivo, alargar o campo de oportunidades educativas para permitir que estes assumam um maior protagonismo no âmbito do processo de ensino – aprendizagem. O concurso “ Faz Portugal Melhor” ajudou-nos a concretizar esse objectivo e a transformar as oportunidades educativas, criadas na escola, orientando os alunos para um maior envolvimento em acções de solidariedade social e comunitária.
 Com o projecto “O Natal é Hoje e Sempre”, os alunos organizaram um plano de acção com base numa reflexão sistematizada, organizada e crítica sobre o tipo de intervenção que pretendiam desenvolver. Para tal, começaram por fazer uma abordagem exploratória do contexto da acção, a associação “Terra dos Homens”, no sentido de enunciar as condições necessárias, os recursos disponíveis, estimar os obstáculos a enfrentar e explicitar o conjunto de actividades a desenvolver. De seguida, deu-se início ao processo de negociação institucional entre os alunos e a instituição que os acolheu para realização do seu projecto. Nesta reunião, foram configuradas as relações de parceria a estabelecer, definindo-se, neste âmbito, os papéis e as tarefas dos diferentes actores envolvidos. Ao longo do percurso, foram realizadas reuniões para monitorização e avaliação do grau de sucesso das acções dos voluntários do “Banco de Tempo”. Nestas reuniões, realizava-se um balanço das actividades, apresentavam-se conclusões relevantes e trocavam-se desenhos, textos e outros produtos das actividades desenvolvidas, semanalmente, com as crianças da associação.
 Trabalhar neste projecto permitiu, não só à professora mas também aos alunos, ter um papel activo na análise das situações e da escolha de caminhos que dão sentido às suas aprendizagens para o exercício da cidadania. Ao longo do ano lectivo, sentimos que os alunos desenvolveram competências de organização e divulgação de saberes e de vivência colaborativa, indispensáveis a uma intervenção na sociedade. Os alunos sentiram-se visivelmente recompensados pela colaboração num projecto que lhes permitiu maior envolvimento entre si, com a escola e com a comunidade. Para os orientadores foi muito gratificante a oportunidade de criar condições para que os alunos se sintam úteis porque contribuímos para um trabalho colectivo que também dependeu de nós. Na verdade, e recorrendo à animação e gestão do trabalho de grupo, sentimos que “ demos a mão aos alunos sem abusar dela”, pois iniciado o percurso, estes descobriram estratégias para ultrapassar os obstáculos que foram surgindo.
Ao longo do processo, a qualidade da interacção entre alunos e aluno/professor favoreceu uma autêntica dialéctica pedagógica indispensável à concretização do projecto e foi sobretudo possível «Ver a (s) árvore (s) no meio da floresta».
No fim, foi possível perceber que o projecto foi mobilizador para os alunos porque a aposta na solidariedade lhes interessa, receberam feedback positivo dos destinatários e a satisfação de um desafio solucionado e visível na vontade de continuar a mobilizar esforços para que o projecto continue, por muitos anos. A satisfação das crianças que ajudam é o melhor testemunho do reconhecimento pessoal e público do sentido concreto do compromisso assumido por estes alunos. Todos saíram a ganhar com a teia de relações construída com fios de afecto e emoções e o conceito de responsabilidade social faz agora mais sentido.
Os textos das crianças (que, por razões óbvias, nunca pudemos filmar ou fotografar) mostram que a qualidade de tempo dada, semanalmente, pelos diferentes grupos, deixa saudades logo no minuto em que dizem apenas: “ Até para a semana!” Do lado de quem parte, fica a reflexão e o contentamento de ter dado sem esforço, ajudado com o coração e com alma, oferecendo tempo, atenção e escuta, numa tentativa de suporte afectivo que falta cada vez mais nas famílias do século XXI.
E quando, aos alunos que deram o tempo que às vezes lhes fazia falta, perguntarem o que fizeram pela sua cidade, pelo seu país, poderão responder: “Dei tempo de qualidade a quem mais precisou e com isso iluminei rostos inocentes”. Haverá recompensa melhor?



A professora: Maria Luísa Moreira de Magalhães Pinheiro